07 maio A NATUREZA DA VIDA
A nossa vida se assemelha muito à natureza. Muitas vezes para entendermos os processos naturais de nossas vivências basta compararmos com os ciclos encontrados na natureza.
Atentemo-nos ao ciclo de vida de uma árvore.
A cada fase de uma específica estação ela realiza um “trabalho” diferente, que depende totalmente do contexto que a cerca. Há o tempo de germinar, de florescer, de se expandir, de atingir o ponto máximo de maturação, de morrer e de renascer. Em todas essas fases há sempre um jogo de equilíbrio entre o agir e o esperar, o dar e o receber, em uma relação intrínseca com o meio externo que a cerca. Da mesma forma, cada fase depende diretamente da outra para existir, é um ciclo perfeito e permanente.
Quando vemos uma árvore cheia de frutos e flores muitas vezes não nos damos conta de que o que vemos é o resultado de um processo que precisou, entre outros fatores, de tempo e de uma ação constante. Assim como na nossa vida, tudo que temos de vitórias e resultados são frutos de nosso comprometimento, trabalho e merecimento. Tudo acontece em seu tempo. Esse tempo muitas vezes não é o de nosso desejo, mas de nossa necessidade espiritual.
Da mesma forma que todas as estações são essenciais para a sobrevida da natureza, todos os momentos que passamos são necessários para vivermos em completude. Precisamos dos ciclos de maior passividade, outros de maior ação, outros com foco interno, outros externos, doar, receber, e assim por diante, sempre em busca de um equilíbrio com nosso meio. Para isso precisamos estar atentos às nossas necessidades nos diferentes momentos de nossas vidas, assim como termos a sensibilidade de perceber o nosso entorno e as demandas advindas dos contextos em que estamos inseridos. Assim como a árvore, não existimos sozinhos.
O mesmo ocorre com os nossos sentimentos, não podemos ter uma visão reducionista que categoriza as nossas vivências e emoções como sendo boas ou más, não se trata disso. Voltemos à natureza, nela não há moral, tudo que existe é essencial à sua existência. Todos os sentimentos são necessários; não somos feitos somente de alegrias, precisamos também reconhecer e vivenciar os nossos lutos e desafios. Tanto o inverno, o outono quanto a primavera e o verão são essenciais aos ciclos naturais da vida.
Se nos apropriarmos das nossas vidas na conexão com a natureza, perceberemos que nossa vida também segue um fluxo natural que comporta diferentes fases. Assim como a natureza nasce, cresce, se reproduz, morre e renasce a cada momento, nós também vivenciamos tais etapas. Uma das grandes riquezas da natureza é o processo de renascimento.
E o que envolve o processo de re-nascer: nascer de novo? Deixar-se morrer para reviver, ou seja, permitir as mudanças da vida e a elaboração das perdas, pois toda mudança acarreta em perdas, mas também em ganhos, a cada nova escolha renuncia-se algo em prol de alguma outra coisa. Portanto, para ressignificarmos o sentido da vida e continuarmos no caminho de nossa evolução fazem-se necessárias a aceitação e vivência do sofrimento, deixar apodrecer e morrer os conteúdos que não nos servem mais, que não nos acrescentam mais e que nos prendem a experiências e condutas que não nos permitem crescer, para assim nos abrirmos ao novo, que por sua vez nunca é totalmente novo, pois carrega em si antigas vivências e o adubo que resultou de todo esse processo de transformação, nos fortalecendo e motivando rumo aos próximos passos. Isso é o renascimento. Por isso a vida é um processo contínuo de transformação, de criação, em que tudo está sincronizado e relacionado ao propósito maior do cumprimento de nossas missões e evolução espiritual.
Por isso faz-se necessário respeitarmos o tempo de cada processo, aprendendo a nos respeitar e aceitar os ciclos naturais da vida, dessa forma, diminuir nossas autocobranças e muitas vezes também o julgamento.
Há sempre uma parcela da nossa vida que está sob nosso controle e que dependerá de nossas ações, mas há também uma grande parcela que não está e que dependerá de outros fatores para acontecer, por isso o que precisamos aqui é contar com a paciência e a fé. O tempo pode nos trazer a maturidade necessária para compreendermos que não podemos exigir do outro e de nós mesmos aquilo que ainda não conseguimos realizar naquele determinado momento.
Não adianta querermos que a flor floresça se ela não está preparada para tanto, isso ocorrerá naturalmente, a partir de seu processo e não de nossa vontade. A vida é assim. Quando é algo que diz respeito a nossa vida individual, podemos e devemos nos esforçar e trabalhar para atingir nossos objetivos (mesmo que também não dependa somente de nossas ações), entretanto quando diz respeito à vida dos outros, podemos simplesmente auxiliar no processo, regar através de conselhos, palavras, atitudes, recursos, porém jamais exigir ou controlar, pois não dependerá somente de nós.
O girassol nos traz um grande ensinamento a esse respeito. Ele sempre busca o sol, assim como as Entidades, o que cabe a Elas é nos guiar, nos orientar rumo à luz, rumo ao caminho que levará ao nosso crescimento, jamais fazer por nós, a responsabilidade será nossa na escolha e decisão de nosso caminho. Assim também ocorre com as outras pessoas quando, por exemplo, percebemos que o caminho que percorrem as levam ao sofrimento, o que nos cabe é orientar, conversar, até mesmo pontuar para que possam reconhecer, estender a mão, porém a escolha será sempre delas.
Outra analogia que podemos fazer com a árvore é em relação a sua raiz firmada na terra. A árvore pode mudar conforme as diferentes fases do tempo, entretanto há algo que a mantém conectada e atada à terra e que é justamente o responsável pela firmeza, que permite a estabilidade frente às mudanças (ou pelo menos a força de enfrentar as instabilidades). Em nossas vidas ocorre o mesmo processo. Quanto menos fixos na terra (e aqui a terra como a conexão com a natureza, com nossas raízes…), mais propensos estaremos a nos perder em nossos caminhos, uma vez que tal alicerce será o responsável pela liberdade em alçar voos mais altos com a segurança necessária, evitando descontroles e desintegrações.
E como constituímos tal base sólida? De diversas formas, entre elas a partir de nossas experiências, de nossas referências de modelos existenciais, do histórico de cuidados frequentes e seguros durante nossas criações, de habilidades e capacidades adquiridas ao longo de encarnações, do sentimento de pertencimento através de algo que nos une; é onde está situada a verdade e essência de nosso espírito, é o que nos faz desenvolver nossa segurança pessoal, na qual nossa estrutura psíquica irá se ancorar. A depender da espessura e do fundamento dessa estrutura poderemos ser mais ou menos capazes de lidar com as mudanças e crises da vida, pois se não estamos muito conectados com nossa essência e fortalecidos em nossa base, o risco de nos desfazer junto às inevitáveis instabilidades do meio se torna grande, ou seja, a árvore pode se romper e cair. Mas aqui também cabe uma reflexão, mesmo que ela caia, sempre é tempo de reconstruir!
Um último ponto de análise é sobre a interdependência dos elementos, assim como a árvore necessita do ar, da água, da terra, do sol e de outros seres vivos para sobreviver, nós também necessitamos do outro para viver. O outro é sempre aquele que possibilitará o meu desenvolvimento. Desde o nosso nascimento somos dependentes de terceiros para nos cuidar e, apesar de alguns acreditarem na ilusão de uma total independência, ao longo da vida seremos sempre dependentes de nossas relações. Somos interligados, pois temos a mesma fonte de vida e para que estejamos em equilíbrio necessitamos dessa integração, portanto de estarmos atentos às necessidades alheias, além das nossas próprias, cuidando da COLETIVIDADE da vida, que nos mostra incessantemente que somos redes constituídas como partes de um todo.
Quando perdermos de vista a perspectiva de algo, quando nos desequilibrarmos por algum motivo, basta nos voltarmos à essência da natureza que com certeza encontraremos muitas respostas e forças nesse universo tão rico e tão sábio.
A UMBANDA nos ensina a olhar e cuidar da natureza que se encontra fora de nós, mas também a reconhecermos e nos conectarmos a natureza de dentro, das águas, fogo, terra, ar, matas e tantos outros elementos que nos habitam, que estão dentro de nosso ser, fazendo-nos crer que realmente somos um, UMA BANDA.
Texto elaborado por Isadora Di Natale Nobre, Filha de Santo do T.E.U.C. Pena Verde – 20/01/2018.
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