Definição
Nanã Buruquê é Orixá antigo, seu culto na África se estende a várias regiões. É de origem jeje, da região de Dassa Zumê e Savê, no Daomé, hoje conhecida como República de Benim. Nanã significa “mãe” e é usado na região do Ashanti para designar pessoas idosas e respeitáveis. Sua saudação ‘Saluba, Nanã’ significa “Senhora Mãe de todas as Mães” ou “Nos refugiamos em Nanã”, ou “Salve Senhora da Lama/do Poço” ou “Salve Senhora da Morte”.
Nanã é a velha senhora, associada à água e a terra. Ela é a mais velha das Iabás, senhora do lago, do lodo, dos pântanos, das águas profundas, das águas lodosas da junção entre o rio e o mar, fonte de vida, regente das chuvas mansas (garoa).
Senhora da morte, é a responsável pela passagem desta vida para outras dimensões. Ela está ligada a vida e morte, ao início e fim de nossas encarnações, assim como ao início e fim dos processos de nossas vidas, auxilia as passagens difíceis da vida, tem o domínio do princípio, meio e fim da vida.
Nanã está associada à evolução dos seres, pois ajuda a controlar os vícios, a eliminá-los para a conquista da nossa evolução, do nosso crescimento espiritual, do nosso desenvolvimento humano.
Quando estamos para encarnar é Ela que decanta o espírito, apaga nossas memórias e reminiscências de vidas passadas; ela decanta nosso mental. Nanã envolve o espírito que irá reencarnar em uma irradiação única, que dilui todos os acúmulos energéticos, assim como adormece sua memória, preparando-o para uma nova vida na carne, onde não se lembrará de nada do que já vivenciou. É por isso que Nanã é associada à senilidade, à velhice, que é quando a pessoa começa a se esquecer de muitas coisas que vivenciou na sua vida carnal; um dos campos de atuação de Nanã é a memória dos seres. Ela adormece os conhecimentos do espírito para que eles não interfiram com o destino traçado para toda uma encarnação.
Ela tem o poder de libertar o passado, propiciando o esquecimento do passado para iniciar um novo ciclo, direcionando-se para o futuro. Sua terra se transforma em lama e é da terra que nasce o ser humano e para terra que somos levados ao morrer. Ela é a Grande Mãe de onde tudo nasce e tudo retorna.
Ela é a força que nos ajuda a entrar no silêncio, na calma, na tranquilidade de nossas emoções. Ela nos ajuda a desapegar de nossos vícios (drogas, fumo, sexo, gula, etc.) e a desenvolver a paciência e a sabedoria, assim como a tolerância e a serenidade para lidarmos com o nosso cotidiano. Ela traz o acolhimento, o saber ouvir e respeitar o tempo subjetivo de cada um, trazendo a sabedoria nas atitudes, palavras, ações e emoções. Possibilita a reforma interior de nosso ser, o equilíbrio emocional e mental, o reconhecimento de nossas verdadeiras necessidades. Traz a maleabilidade como sua característica do elemento água, causando movimento ao que está estagnado, limpando energias negativas e desequilíbrios (pensamentos, sentimentos, crenças e emoções). O elemento terra permite a absorção dos negativismos, gerando condições de estabilizar a transformação e o renascimento para novas energias e experiências. Decantando nossas emoções e sentimentos Nanã possui o poder da cura espiritual, nos acalmando e transformando conforme nossas necessidades de crescimento espiritual, trazendo a evolução de nossas almas.
Tem como instrumento o Ibiri, cetro de palha da costa, com talos de dendezeiro e búzios que ela traz na mão para afastar a morte. Um de seus símbolos também é o búzio que simboliza a morte e a fecundidade. Outro símbolo é o grão, pois todo grão tem que morrer pra germinar, assim Nanã dá nascimento às sementes possibilitando a transmutação e a transformação contínua da vida.
Arquétipo – Características das filhas de Nanã
As filhas de Nanã têm temperamento calmo, muita paciência,
benevolência, dignidade e gentileza. Agem com segurança e majestade, são pessoas muito respeitosas, interessantes, maduras, sérias e justas.
Sua natureza costuma ser de serenidade e resignação. Também podem ser muito possessivas e não esquecem nada do que lhe fazem, não aceitam traições, podendo ser ranzinzas e vingativas, assim como super protetoras.
Chacras
Há relação de Nanã com vários Chacras. Alguns autores consideram Nanã, por ser a mais antiga Iabá e estar relacionada à criação, associada a Oxalá, sendo considerada o lado feminino da criação do mundo. Como Oxalá está relacionada ao chacra coronário, que tem como função trazer as energias superiores para o corpo, tanto como energia quanto como informação, Nanã também se relacionaria a este Chacra, que é o da fé, da entrega, do trabalho, pois através dele nos relacionamos com os mundos superiores.
Outros estudiosos consideram que todas as Iabás (Nanã, Oxum, Iansã e Iemanjá) se relacionariam com o Chacra frontal; é o chacra dos sentidos, atuando diretamente sobre a hipófise e também na área do raciocínio e da visão. Por isso é dito que este é o chacra responsável direto pelo funcionamento dos centros superiores intelectivos, bem como do sistema nervoso central (visão, audição, tato, etc.). Este também é um dos chacras responsáveis pela vidência e intuição no campo da mediunidade.
Através dele emitimos nossa energia mental, portanto, é neste chacra que possuímos o comando dos poderes psíquicos. O chacra frontal se encontra intimamente ligado com o correspondente centro de forças do perispírito.
Há ainda outras interpretações, relacionando Nanã a Obaluaê e, portanto ao sentido da evolução e ao Chacra esplênico, que gera a transmutação, regula a distribuição e a circulação adequada dos recursos vitais.
Podemos também por fim relacioná-la ao Chacra da Base, que está ligado a terra, outra relação com a energia de Omulu (ou ainda há autores que relacionam Omulu e Nanã ao chacra dos pés).
Características
Elementos que compõem a oferenda
Fita azul escura, 07 velas azuis escuras, uma cumbuca branca com água do mar, pemba branca, alguidá para comida, pirão paçoca de amendoim, frutas, flores do campo, lírios, crisântemos, taça, bebidas tais como champanhe, licores de morango, amora ou framboesa.
Lendas
1) Nanã foi a única esposa de Oxalá. Nanã não era bonita e estava sempre instável e ranzinza e sua aparência afastava os homens. O velho oleiro queria roubar-lhe o poder que ela tinha sobre os mortos. Assim, deu-lhe uma poção que fez com que ela se apaixonasse por ele. Nanã dividiu seu reino com ele, mas proibiu sua entrada no reino dos Eguns. Oxalá espionou-a e aprendeu o ritual de invocação dos mortos. Depois, disfarçando-se de mulher com as roupas dela, foi ao reino dos Eguns e ordenou-lhes que obedecessem ao seu marido, que era ele mesmo. Quando Nanã descobriu quis reagir, mas, como era apaixonada, acabou aceitando dividir seu poder com Oxalá.
2) Segundo o mito Nagô, com os elementos contidos na cabaça da existência, Odudua criou o ar, a água, a terra e o fogo e distribuiu o comando deles entre os Orixás. Nanã, tida como a Iemanjá mais velha, ficou com o comando da terra molhada, a lama, para que, separada da água, surja a terra sólida e firme para ser habitada. A lama é o elemento primordial de nossa criação. Tudo virá dela e tudo será devolvido depois de cumprida a missão que for destinada a cada ser e a cada coisa. Nanã ficou, assim, encarregada de devolver à lama o quer dela provinha. Por isso também é considerada a guardiã das almas dos mortos (Eguns).
3) Os mais velhos contam que, quando recebeu ordens de Olorum (Deus Supremo) para criar o homem, Oxalá se utilizou, sem sucesso, de várias matérias primas. Tentou o ar, mas o homem se desfez rapidamente. Experimentou a madeira, mas o homem ficou muito duro. O mesmo, e com mais intensidade, aconteceu com a pedra. Com o fogo, nada feito, pois o homem se consumiu. Oxalá tentou outros elementos, como água e azeite. Nada funcionava. Então, Nanã, com seu Ibiri, apontou para o fundo do lago onde ela morava e de lá retirou a lama que entregou a Oxalá para ele fazer o homem. Deu certo: o homem foi modelado de barro e com o sopro de Olorum, ganhou vida. Com a ajuda dos Orixás povoou a terra. Por isso, quando morre, o corpo físico do ser humano retorna à terra de onde veio por empréstimo de Nanã, aquela que passeia pelos cemitérios.